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Identificações erradas e fraudes – Capítulo 4 – Periclásio

IDENTIFICAÇÕES ERRADAS DE MINERAIS E FRAUDES

Capítulo IV – PERICLÁSIO

O periclásio é um óxido de magnésio, MgO. Cristaliza-se no sistema cúbico, normalmente sob a forma de octaedros, mas que raramente excedem 2 mm de comprimento.

A cor pode ser incolor, branco-acinzentada, amarela, amarela-amarronzada, verde ou preta; o brilho é vítreo, o índice de refração é relativamente alto (1,74); a dureza é 5,5 e a densidade é 3,56.

Os cristais exibem clivagem cúbica perfeita, de onde saiu o nome do mineral, derivado de uma palavra grega que significa “quebrar em volta”.

É um mineral relativamente raro, encontrado em calcários metamórficos magnesianos formados em ambiente de alta temperatura.

No site www.mindat.org, que é uma das melhores fontes de referência para quem busca informações sobre qualquer mineral, estão publicadas apenas 8 fotos de periclásios, o que mostra como o mineral é raro e normalmente não-fotogênico; a mais bonita é de um cristal verde, medindo 2 mm, proveniente da Suécia; todas as demais fotos são de cristais brancos ou cinza.

PERICLÁSIO SINTÉTICO

Há cerca de 10 anos surgiram no mercado amostras de periclásio de cor verde-maçã, transparentes, medindo até mais de 5 cm; foram vendidas como periclásio natural, supostamente provenientes de “um lugar secreto na Bahia”, e vários lotes foram lapidados e vendidos fraudulentamente como gemas naturais.

Periclásio sintético

O que apuramos é que a Magnesita S.A., que opera jazidas na região da Serra das Éguas, em Brumado, BA, e é a maior produtora de materiais refratários no hemisfério sul, importa periclásio sintético, de alta pureza, que é usado como padrão em seus laboratórios de análises químicas para controle de qualidade de seus produtos, e que alguém ou teria desviado peças do estoque da Magnesita ou feito uma importação direta com a finalidade de vender o material fraudulentamente como natural; essa é uma possibilidade plausível pois periclásio sintético nunca é encontrado numa feira internacional de minerais ou de gemas, assim sendo nenhum comerciante brasileiro ou estrangeiro teria a oportunidade de conhecer esse material e se sentir tentado a trazê-lo ao Brasil para fazer dinheiro fácil iludindo compradores incautos.

Periclásio sintético

É muito fácil distinguir um periclásio natural de um sintético: simplesmente não existem periclásios naturais de qualidade gemológica que meçam mais do que poucos milímetros, e devido à raridade do mineral e das características de suas ocorrências é extremamente improvável que algum dia peças maiores sejam encontradas

Identificações erradas e fraudes – capítulo 3

Uma fraude clássica é a colagem de cristais de diamante e/ou de pequenos grãos de ouro no conglomerado, que são vendidas para colecionadores incautos ou para turistas como sendo peças naturais. Abaixo temos um exemplo típico – a primeira foto mostra a peça inteira, e as demais as montagens em detalhe. Ao clicar nas fotos, elas poderão ser visualizadas em tamanho maior.

diamante 001 detalhes

Conglomerado com ouro e diamante colado

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Detalhe do diamante colado

Ouro colado

Ouro colado em destaque

Tanto o diamante como o ouro são encontrados naturalmente nos conglomerados na região da Serra do Espinhaço e adjacências, que se estende do centro ao norte de Minas Gerais. São rochas metamórficas muito antigas, com mais de 1 bilhão de anos de idade, que contêm o resultado da erosão de rochas pré-existentes, inclusive kimberlitos, gerando rochas sedimentares que continham os diamantes, essas rochas desceram na crosta terrestre, e por ação de alta pressão e temperatura se transformaram em rochas metamórficas (quartzitos e meta-conglomerados); essas camadas voltaram posteriormente a se elevar, chegaram de volta à superfície e  foram então novamente erodidas, liberando os diamantes e o ouro (que não se originou em kimberlitos mas em outras rochas que sofreram o mesmo processo de erosão, transporte e metamorfização), gerando os ricos depósitos aluvionares que foram descobertos e intensivamente explorados nos séculos XVII e XVIII.  Na foto abaixo vemos uma excelente amostra  de diamante – um cristal natural, com ótima transparência.

Diamante - cristal natural

Cristal perfeito de diamante

É, portanto, possível encontrar grãos de ouro e/ou de diamante dentro dos conglomerados, mas devido ao colossal volume dessas rochas a chance de se encontrar a olho nu uma dessas amostras mineralizadas é extremamente baixa. Em nenhum garimpo nem em nenhuma mina industrial se tenta ver um ouro ou diamante na matriz, nos garimpos não se desagrega o conglomerado mas sim é processada rocha naturalmente desagregada, e nenhuma amostra é manuseada, o material é concentrado em bateias ou em “jigues” e o ouro e o diamante são concentrados gravimetricamente, os grãos que estiverem dentro do conglomerado vão ser certamente descartados junto com o rejeito da mina. Alguém pode até encontrar uma amostra nesses rejeitos, mas a chance é tão pequena que essas amostras legítimas deveriam ser extremamente raras.

Conglomerado com diamante colado

Conglomerado com diamante colado

Mas não é isso que acontece, existem em Diamantina e outras cidades da região verdadeiras linhas de montagem de ouro e diamantes nos conglomerados; alguns “artistas” (do mal!) colocam algumas vezes dois ou até mais cristais de diamante num mesmo conglomerado, ou então um cristal de diamante e ou grão de ouro, o que seria uma quase impossibilidade estatística de ser encontrado naturalmente. São peças, na minha opinião, desprovidas de qualquer valor, e não merecem pertencer a coleções de minerais sérias.

Diamante colado em conglomerado

Diamante colado em conglomerado

No último show de Tucson um comerciante americano tinha uma mesa cheia dessas amostras, com certeza (devido à quantidade) todas são fraudadas; um comerciante de Governador Valadares também adquiriu há poucos meses várias dezenas de peças, certamente também nenhuma é legítima.

Prezado assinante, caso você tenha uma peça dessas na sua coleção pode ter certeza de que ela deve ter sido montada. Recomendamos que ninguém compre esse tipo de material.

Identificações Erradas de Minerais E Fraudes – Segundo Capítulo – Espinélio

ESPINÉLIO

Uma das fraudes mais recentes no comércio de minerais é a tentativa de se vender grupos de cristais de espinélio sintético como sendo espinélio natural.

Vamos a seguir fazer uma descrição das diferenças fundamentais entre ambos os materiais, que permitem uma fácil detecção da fraude:

ESPINÉLIO NATURAL

Espinélio na Calcita – Tanzânia

O espinélio é um óxido de magnésio e alumínio, MgAl2O4; quando quimicamente puro seria incolor ( o que até agora não foi encontrado na natureza ), entretanto impurezas diversas podem torná-lo preto, azul, lilás, verde, marrom, rosado ou, a variedade mais nobre, vermelho ( nesse caso a cor se deve a impurezas de cromo ).

Espinélio – Tanzânia

Cristaliza-se no sistema cúbico, quase sempre sob a forma de octaedros, e é relativamente comum exibir geminação ( conhecida como “Lei do Espinélio, que se constitui de 2 octaedros achatados superpostos ). As figuras abaixo, extradas do livro “Manual of Mineralogy”, de Klein and Hurlbut, pg. 309, mostram 3 dos hábitos mais comuns:

Figura (a) – Octaedro


Figura (b) – Geminado “Lei-do-Espinélio”

Figura (c) – Octaedro combinado com Dodecaedro

A dureza é muito alta, 8,5, e o índice de refração também é relativamente alto, 1,719, resultando em gemas com muita “vida”.

Ocorre normalmente em rochas metamórficas ( normalmente calcários metamórficos, como a peça que abre a matéria ); o maior produtor mundial é Mianmar ( região de Mogok ), sendo outros importantes produtores mundiais o Sri Lanka, a Tanzânia, o Vietnã e Madagascar ; não por coincidência todos esses países são importantes produtores de rubis, pois ambos se formam nos mesmo ambientes geológicos: rochas metamórficas portadoras de traços de cromo onde variações químicas localizadas levam à formação do rubi ou do espinélio.

Espinélio – Mianmar

Também não por coincidência o Brasil, que não é produtor de rubis de valor gemológico, também não é produtor de espinélios vermelhos; o Museu de Mineralogia da USP possui em seu acervo minúsculos octaedros vermelhos de espinélio que foram recuperados como sub-produto do processamento de areias monazíticas, possivelmente da região de Guarapari, ES. A região de Canindé, RJ, produziu no início da década de 80, em matriz de calcário metamórfico, cristais translúcidos azuis-acinzentados de espinélio, com hábito combinado de octaedro e dodecaedro, medindo até cerca de 1 cm.

Espinélio Azul geminado – Lei do Espinélio – Tanzânia

O espinélio pertence ao chamado “Grupo do Espinélio”, constituído dos seguintes minerais ( os marcados em negrito são comuns ou pouco raros, os demais são muito raros ):

Brunogeierita – GeFe2O4
Cromita – FeCr2O4
Cocromita – CoCr2O4
Coulsonita – FeV2O4
Cuproespinélio – CuFe2O4
Espinélio – MgAl2O4
Franklinita – ZnFe2O4
Gahnita – ZnAl2O4
Galaxita – MnAl2O4
Hercynita – FeAl2O4
Jacobsita – MnFe2O4
Magnesiocromita – MgCr2O4
Magnesiocoulsonita – MgV2O4
Magnesioferrita – MgFe2O4
Magnetita – Fe2+Fe3+2O4

Manganocromita – MnCr2O4
Nicromita – NiCr2O4
Qandilita -Mg2TiO4
Trevorita -NiFe2O4
Ulvoespinélio – Fe2+2O4
Vuorelainenita – MnV2O4
Zincocromita – ZnCr2O4

Além do espinélio o único outro membro do grupo que pode apresentar valor gemológico é a gahnita, que se apresenta normalmente sob a forma de cristais octaédricos de cor verde, que podem ser raramente transparentes e produzir gemas de razoável valor.

ESPINÉLIO SINTÉTICO

O espinélio é um material fácil de ser sintetizado: há muitas décadas já era produzido sob a forma de cilindros com uma das extremidades menor, chamados de “peras” ou “boules” ( da mesma forma que os mais primitivos rubis sintéticos ), e que eram preferencialmente coloridos, através de adequada adição de impurezas, de forma a simular a cor da água-marinha; são falsificações grosseiras, que um gemólogo com um mínimo de experiência detecta facilmente, mas que podem estar sendo até hoje fraudulentamente vendidas a compradores incautos em postos de gasolina nas margens da Rio-Bahia na região de Governador Valadares, Teófilo Otoni, Catugi e Padre Paraíso ou mesmo em lojas de souvenirs nas grandes cidades brasileiras.

Não pretendemos nos estender sobre esse assunto (espinélio sintético como gema falsa), pois isso é sobejamente conhecido pelo mercado. Nosso foco é a falsificação como mineral de coleção ou cristal esotérico.

Assim como é fácil produzi-lo como gema sintética barata, temos constatado nos últimos anos vários casos de cristais de espinélio sintético que têm sido oferecidos como espinélios ( ou outros minerais ) naturais. É relativamente simples e barato produzir cristais de espinélio em fornos metalúrgicos, mas esses cristais podem ser facilmente distinguidos dos naturais pelas seguintes características:

– são falsificações grosseiras, portanto não compensa que seja gasto muito tempo ou tecnologia para produzi-las: o resultado é sempre um grupo de muitos cristais de espinélio, o que nunca vimos até agora ocorrer na natureza: assim como o rubi, o espinélio quase se sempre se forma como cristais isolados ou como grupos de 2 ou não mais de 3 cristais, enquanto que os sintéticos são grupos de dezenas de cristais crescendo em paralelo

– são sempre translúcidos a opacos, pois o processo de cristalização deve ser muito rápido ( caso contrário o custo de produção aumentaria muito )

– examinando-se o material com uma lupa podem ser vistas cavidades esféricas na superfície ( bolhas de ar ), ou pequenos acúmulos esféricos de material sobre as faces dos cristais.

– como os cristais se depositam sobre o fundo do forno normalmente a base deles é plana, o que não ocorre nos cristais naturais

As fotos abaixo ilustram um grupo de cristais de espinélio sintético (notem as bolhas de ar no canto inferior direito) :

A foto abaixo mostra claramente a base plana:

Gostaríamos de ilustrar este nosso alerta com 2 casos concretos recentes:

1 – No show de minerais de Tucson um comerciante brasileiro estava oferecendo vários grupos de cristais octaédricos de cor vermelho-granada; eu inicialmente levei um susto, pensei que se fossem naturais deveriam ser de espinélio, mas eu não havia visto nada semelhante nem no Brasil nem em nenhum outro lugar; examinei com a lupa e vi imediatamente as cavidades esféricas bem como os pequenos depósitos esféricos sobre algumas das faces dos cristais, e perguntei então a ele:

– Asdrúbal ( nome fictício ), que material sintético mais fajuto e horroroso é esse que você está vendendo?

e ele respondeu:

– Você tem certeza que é sintético?

– Tenho!

– Eu também desconfiei, mas o Napoleão ( nome fictício ) me devia uma grana e me deu esse material como pagamento, e eu tenho que tentar recuperar prejuízo

– Você está vendendo isso como?

– O Napoleão me disse que era uma granada rara, com a forma de “balãozinho”, e eu estou vendendo como “granada vulcanizada”!

Horror puro!; por favor acreditem, a história é verídica!

2 – Há 3 meses um fornecedor tradicional veio ao meu escritório em Belo Horizonte oferecer um lote de quartzos rutilados; após fecharmos o negócio ele tentou me vender um pequeno lote, que alguém havia dado a ele em consignação, constituído de grupos achatados de cristais pretos, formando um reticulado, parecendo à primeira vista grupos de cristais geminados de rutilo exibindo a chamada “geminação reticulada”; entretanto o brilho do rutilo, daquela cor, da região de Diamantina ( onde ocorrem esses geminados reticulados ) é mais metálico e a densidade do rutilo é 4,23, um pouco superior à do espinélio, 3,56; desconfiei e fui examinar o material sob o microscópio e constatei a presença de pequenos depósitos esféricos sobre as faces de alguns cristais, bem como minúsculas cavidades esféricas nas extremidades.

Perguntei então o preço do lote, e o Gumercindo ( nome fictício ) me disse que o garimpeiro que havia encontrado o “caldeirão” com o material queria 1000 dólares pelo lote, então eu disse a ele para dizer ao garimpeiro que deixasse de ser ladrão e fosse ganhar a vida honestamente, pois o material é sintético e não vale nada.

O material tem simetria octaédrica e é também um espinélio sintético. Abaixo fotos de duas amostras que eu guardei, bem como a de um grupo de cristais legítimos de rutilo com geminação reticulada.

Espinélios sintéticos

Rutilo Reticulado

Todo o cuidado é pouco, a banditagem corre solta!

Finalizando este assunto, recebemos recentemente um E-mail com um link para o site www.unicadomundo.com, oferecendo o que se diz ser “o maior espinélio do mundo!”; sugiro que os prezados amigos vejam atentamente o conteúdo e tirem suas próprias conclusões!